Histórias de Coragem e Esperança na Jornada com Esclerose Múltipla
Brasil, 30 de Agosto de 2025
Esta edição nasceu de um movimento inesperado. Pouco depois de lançarmos a edição dedicada à ELA (Esclerose Lateral Amiotrofica), sentimos que agosto pedia mais: pedia cor, voz e presença. Assim surgiu, de última hora, esta edição especial do Agosto Laranja.
Aqui, reunimos histórias de quem foi atravessado pelo inesperado e, em vez de cair, encontrou novas formas de existir. São vozes que revelam coragem, esperança e a certeza de que mesmo em meio ao caos é possível florescer.
Mais do que relatar jornadas, estas páginas são um convite: olhar para cada uma dessas histórias é descobrir que a força humana não se mede pela ausência de quedas, mas pela capacidade de se reinventar depois de cada impacto.
Carta da Editora — Agosto Laranja 2025
Quando a Raros nasceu, meu propósito era falar apenas da esclerose múltipla. Mas logo percebi que as doenças raras se entrelaçam em tantas dimensões da vida que não faria sentido limitar a conversa. A revista cresceu, abriu espaço para outras condições e, ainda que a esclerose múltipla esteja no centro da minha própria jornada, a essência da Raros sempre será maior: unir vozes, aproximar pessoas e mostrar que conhecer a vida do outro pode ser tão importante quanto compartilhar a nossa própria.
Mesmo convivendo com sequelas, sigo adiante. Porque não é uma deficiência causada pela esclerose que define quem sou e tampouco deve ser aquilo que paralisa alguém. A vida não para. E quando nos unimos, ela se torna mais leve, mais possível.
Aprendi que não basta resistir. A verdadeira força está em transformar o caos em movimento, o medo em aprendizado, a dor em impulso. Isso é antifragilidade. E é nesse espírito que construímos o Agosto Laranja da Raros: não apenas para conscientizar, mas para mostrar que juntos podemos ser mais fortes do que qualquer adversidade.
A união também é cuidado com a saúde mental. Escutar o outro, conhecer a vida de quem trilha um caminho parecido, pode aliviar o medo de quem acabou de receber um diagnóstico e fortalecer quem já convive há anos com uma condição rara. Cada história compartilhada é um gesto de acolhimento e esperança.
O Agosto Laranja 2025 é sobre isso: um chamado à união. Um convite para que ninguém enfrente sozinho. Uma prova de que, quando caminhamos lado a lado, construímos não apenas visibilidade, mas também comunidade, coragem e futuro.
Com esperança e compromisso,
Giselle Pekelman
Jornalista Responsável – Revista Raros
SUMÁRIO
01
PREFÁCIO
Uma introdução sobre a Esclerose Múltipla e o propósito deste livro
02
CAPÍTULO 1 - A VIDA QUE GRITOU
A História de Daniel Costa da Rocha
03
CAPÍTULO 2 - A JORNADA DE FÉ E SUPERAÇÃO
A História de Fernanda Riceto
04
CAPÍTULO 3 - A MÉDICA QUE SE TORNOU PACIENTE
A História de Gabriela Micheleto de Oliveira
05
CAPÍTULO 4 - O DIA EM QUE O MUNDO SUMIU
A História de Grégori Lima Ferreira
06
CAPÍTULO 5 - A FORÇA INABALÁVEL DE UMA GOIANA
A História de Karina Rocha Freitas Brito
07
CAPÍTULO 6 - OS PRIMEIROS PASSOS DE UMA NOVA REALIDADE
A História de Verônica Moschiar Pontes
08
REFLEXÕES SOBRE A FORÇA HUMANA
Considerações finais sobre as lições aprendidas
PREFÁCIO
A Esclerose Múltipla é uma condição que transforma vidas de maneiras inimagináveis. Não apenas pela complexidade médica que representa, mas principalmente pela força extraordinária que desperta nas pessoas que a enfrentam. Este livro reúne seis histórias reais de brasileiros que, diante do diagnóstico, escolheram transformar desafios em oportunidades, medos em coragem e limitações em novas possibilidades.
Cada relato aqui apresentado é um testemunho vivo de que a vida pode ser plena, significativa e inspiradora, mesmo quando os caminhos se tornam mais complexos. São histórias de fé, família, superação e, acima de tudo, de uma humanidade que se revela em sua forma mais pura quando testada pelas adversidades.
Daniel, Fernanda, Gabriela, Grégori, Karina e Verônica nos ensinam que o diagnóstico de Esclerose Múltipla não é o fim de uma história, mas o início de um novo capítulo. Um capítulo escrito com mais consciência, mais gratidão e uma compreensão mais profunda sobre o que realmente importa na vida.
Que suas jornadas inspirem todos aqueles que buscam força para enfrentar seus próprios desafios, lembrando que a verdadeira vitória não está na ausência de obstáculos, mas na forma como escolhemos superá-los.
Histórias Reais
Seis brasileiros compartilham suas experiências autênticas com a Esclerose Múltipla
Transformação
Como desafios se tornaram oportunidades de crescimento e renovação
Inspiração
Relatos que oferecem esperança e força para quem enfrenta diagnósticos similares
CAPÍTULO 1
A VIDA QUE GRITOU
A História de Daniel Costa da Rocha
Daniel Costa da Rocha, de 47 anos, psicólogo e escritor porto-alegrense, descobriu em maio de 2017 que tinha Esclerose Múltipla Primária Progressiva. Naquele momento, no Hospital São Lucas da PUCRS, quando um médico cubano lhe disse friamente que a doença não tinha cura e saiu do quarto, ele sentiu que a vida havia acabado.
Hoje, sete anos depois, o profissional atende pacientes online, escreve livros, produz conteúdo nas redes sociais e carrega uma mensagem poderosa: é possível viver com otimismo "apesar de". Sua jornada é um testemunho eloquente de como é possível transformar um diagnóstico devastador em uma oportunidade de renascimento pessoal e profissional.
A Vida Antes da Tempestade: O Ritmo Insustentável
Era uma segunda-feira, 8 de maio de 2017, quando Daniel se internou no hospital. Aos 40 anos, estava no meio da faculdade de Psicologia, vivendo uma rotina extenuante que o consumia por completo. "Passei três anos sem tirar férias, saía de um estágio acadêmico pesado e já entrava em outro. Não comia direito e não dormia direito", relembra com a clareza de quem aprendeu a valorizar o descanso.
Além da faculdade e estágios, o futuro psicólogo escrevia um romance de mais de quatrocentas páginas, "Piano Para Pequena Clara", roubando horas ao sono nas madrugadas. Era uma vida de constante movimento, onde parar significava atraso, onde o autocuidado era visto como luxo desnecessário.
Os Sinais Ignorados
1
Anos Antes
Os sinais vinham há anos, sussurrando antes de gritar. Ele cansava facilmente e tinha problemas de equilíbrio, mas atribuía tudo ao sedentarismo e ao estresse da vida acadêmica.
2
2008
Uma ressonância mostrou uma "manchinha amarela" que foi ignorada como algo sem importância.
3
2016
Nova ressonância revelou que a mancha havia crescido drasticamente.
4
Início de 2017
Três neurologistas chegaram à mesma conclusão: suspeitavam de esclerose múltipla. Mas o estudante resistia à realidade que se desenhava diante dele.
5
Maio de 2017
"Tinha estágio, tinha minha faculdade. Tinha coisas." A negação era uma forma de proteção, uma tentativa de manter a vida funcionando como sempre havia funcionado.
A Noite Que Mudou Tudo: O Diagnóstico Brutal
Foi na noite do dia 11 de maio de 2017 que tudo mudou para sempre. Já tomava corticoide há dois dias, mas ninguém havia dado diagnóstico definitivo. Um médico cubano entrou no quarto com a naturalidade de quem estava cumprindo mais uma tarefa rotineira.
"E aí, doutor, já tem algum diagnóstico?", perguntou Daniel, esperando talvez mais alguns dias de incerteza. "Tem, Esclerose Múltipla Primária Progressiva." "E tem cura?" "Não", foi a resposta seca, antes do médico sair do quarto sem mais explicações.
"Naquele momento, senti o que era morrer", relembra o escritor, a voz ainda carregada pela memória daquele instante que dividiu sua vida em antes e depois. "Todos os meus sonhos, tudo que eu ainda esperava viver, perdeu o sentido." As palavras "incurável" e "progressiva" ecoavam como martelos implacáveis, destruindo cada plano, cada esperança, cada projeto futuro.
Um Fio de Esperança

Na mesma noite, como se o universo conspirasse para oferecer um fio de esperança, o pai do colega de quarto contou sobre uma amiga com esclerose múltipla que trabalhava, andava de bicicleta e era bonita. "Aquilo me fez querer estar vivo", admite Daniel, reconhecendo como pequenos gestos de humanidade podem reacender a chama da esperança nos momentos mais sombrios.
Este momento aparentemente simples representou uma virada crucial na forma como Daniel encarava seu diagnóstico. A história daquela mulher desconhecida, vivendo plenamente apesar da mesma condição, plantou a primeira semente de possibilidade em um terreno que parecia completamente estéril.
É impressionante como, nos momentos mais difíceis, pequenos gestos ou histórias podem ter um impacto transformador. Para Daniel, aquela conversa casual no quarto de hospital foi o primeiro passo em direção a uma nova perspectiva sobre sua condição e seu futuro.
A Vida Que Gritou: Despertando para uma Nova Consciência
"Depois do meu diagnóstico, a vida gritou", reflete o psicólogo com a sabedoria de quem aprendeu a escutar os sussurros antes que se tornem gritos. De uma existência automática, cheia de correrias e compromissos vazios, passou para uma vida consciente e significativa, onde cada momento tem peso e propósito.
A transformação não foi apenas filosófica, mas profundamente prática. Precisou desenvolver estratégias de sobrevivência que se tornaram rituais sagrados: quando cansado, deita e cochila até estar "novo", independentemente da hora ou das convenções sociais. Faz pilates duas vezes por semana e fisioterapia uma vez, tratando o corpo com o cuidado que antes negligenciava.
Há um ano e meio usa bengala, acessório que inicialmente resistiu, mas que agora abraça como ferramenta de independência. "Um ganho secundário que a esclerose me deu: não fico mais inventando desculpas para programas que não quero ir", confessa com o sorriso de quem descobriu que a honestidade sobre limitações pode ser libertadora.
A Virada Profissional: Transformando Dor em Propósito
A verdadeira virada aconteceu quando Daniel decidiu prosperar apesar do diagnóstico, transformando sua experiência pessoal em combustível para excelência profissional. Depois da notícia devastadora no meio da faculdade, em todos os estágios subsequentes, trabalho de conclusão e pós-graduação em Psicanálise, tirou nota 10.
Formou-se caminhando, aplaudido de pé, em uma cena que ele descreve como um dos momentos mais emocionantes de sua vida. O vídeo está no YouTube: "Daniel Rocha – Formatura Psicologia", um registro permanente de uma vitória que transcendeu qualquer expectativa médica ou pessoal.
Por ironia do destino, ele se formou na mesma noite que uma colega que também tem esclerose múltipla, a mesma que ajudava antes do próprio diagnóstico. "Dois psicólogos com esclerose múltipla se formando juntos", resume, impressionado com a simetria da vida e com como o universo às vezes cria conexões significativas nos momentos mais importantes.
Vivendo com Otimismo "Apesar de"
Psicólogo Online
Hoje Daniel trabalha como psicólogo online, especializado em "viver com otimismo".
Otimismo Genuíno
Não se trata de "positividade tóxica" ou negação da realidade, mas de otimismo genuíno nascido da experiência de quem passou pelo vale da sombra da morte e escolheu encontrar luz mesmo na escuridão mais profunda.
Mensagem Transformadora
Para quem recebe diagnóstico similar, Daniel é claro e direto: "O diagnóstico não é o fim da vida, embora possa ser o fim de 'um tipo' de vida."
"Se a doença vem dar um recado, pegue esses limões e faça a melhor limonada possível. Se um sonho não foi possível, tenha novos sonhos. Nunca desista de sonhar."
Danilel e seu irmão Fernando Rocha
Com sua Mãe - Eneida Angelim Costa
Daniel e seu Pai - Paulo Rocha
CAPÍTULO 2
A JORNADA DE FÉ E SUPERAÇÃO
A História de Fernanda Riceto
Em Uberlândia, Minas Gerais, vive uma mulher cuja coragem floresce diante da adversidade como um girassol que sempre busca a luz. Fernanda Riceto, de 35 anos, surge como um verdadeiro exemplo de como a força de uma pessoa pode ser medida por sua capacidade de transformar desafios em oportunidades de crescimento e inspiração.
Escolhida pela própria comunidade de pessoas com Esclerose Múltipla para contar sua história, Fernanda transforma sua vida com a doença em uma mensagem poderosa de aceitação, coragem e luta. Sua jornada, repleta de altos e baixos, mostra como é possível encontrar um novo sentido e esperança, mesmo quando a vida apresenta obstáculos que parecem intransponíveis.
Os Primeiros Sinais: Quando os Sonhos Encontram a Realidade
O segundo semestre de 2009 marcou o início de uma jornada que Fernanda jamais imaginou percorrer. Naquele período, ela era uma jovem estudante universitária, cheia de planos e sonhos para o futuro. A vida seguia seu curso normal, com a rotina acadêmica, trabalho e todas as expectativas típicas de alguém em seus vinte e poucos anos.
Mas o destino tinha outros planos. A Esclerose Múltipla começou a se manifestar de forma sutil, quase imperceptível no início. Primeiro, um formigamento e dormência nas pernas que ela inicialmente atribuiu ao cansaço ou má postura. Depois, dificuldades para andar que se tornaram mais evidentes, quedas inexplicáveis e uma urgência urinária constante que a deixava confusa e preocupada.
Fernanda Riceto e neurologista Dra. Sheila Bernardino.
Fernanda e Elidavania Cunha
Os Primeiros Sintomas
Formigamento
Dormência nas pernas que inicialmente foi atribuída ao cansaço ou má postura
Dificuldade para Andar
Problemas de mobilidade que se tornaram mais evidentes com o tempo
Quedas Inexplicáveis
Episódios de desequilíbrio que não tinham explicação aparente
Urgência Urinária
Necessidade constante de ir ao banheiro que causava confusão e preocupação
A busca por um diagnóstico se tornou uma verdadeira odisseia médica, repleta de frustrações e desencontros que testaram profundamente a paciência e determinação de Fernanda. Inicialmente, ela foi internada no SUS, onde passou por uma bateria de exames que, surpreendentemente, não detectaram nada de anormal.
Despertar e Aceitação: A Nova Rotina de Fernanda
O diagnóstico da Esclerose Múltipla trouxe uma nova realidade para Fernanda: a deficiência física. Logo depois de receber a confirmação da doença, ela já precisava de uma cadeira de rodas para se locomover, alternando com um andador dependendo da situação e da distância a percorrer.
O começo foi extremamente difícil, repleto de vergonha e tristeza profunda. O olhar de pena das pessoas na rua, a sensação de que todos os seus sonhos e planos cuidadosamente construídos tinham sido destruídos em questão de meses, tudo isso a machucava de forma quase física. Aceitar a doença foi um caminho doloroso e gradual, mas essencial para que ela pudesse seguir em frente com dignidade e propósito.
Fernanda e Giselle Pekelman
Hoje, dezesseis anos depois daquele diagnóstico que mudou tudo, Fernanda lida com sua condição de uma forma que inspira todos ao seu redor. Sua rotina é completamente adaptada, e os equipamentos de mobilidade se tornaram verdadeiras extensões de seu corpo, ferramentas de liberdade ao invés de símbolos de limitação.
A Busca Pelo Diagnóstico: Uma Jornada de Frustração e Descoberta
Desesperada e determinada a encontrar explicações, Fernanda decidiu tomar as rédeas de sua própria investigação médica. Começou a pesquisar na internet, digitando meticulosamente todos os seus sintomas em sites médicos e fóruns de saúde. Foi durante essa busca autodirigida que a Esclerose Múltipla apareceu como uma possível causa para tudo o que estava experimentando.
Com essa informação em mãos, Fernanda decidiu fazer uma ressonância magnética particular para obter confirmação definitiva. Ao abrir o envelope e chegar à última frase do laudo, suas suspeitas se confirmaram: "considerar Esclerose Múltipla como primeira possibilidade." Aquelas palavras mudaram sua vida para sempre.
Sentimentos Contraditórios
Alívio
Finalmente saber o que tinha após tanto tempo de incerteza
Medo
Preocupação intensa sobre como seria sua vida dali para frente
Dúvida
Questionamentos sobre quais limitações enfrentaria no futuro
Incerteza
Preocupação se seus sonhos ainda seriam possíveis de realizar
Receber essa notícia foi uma mistura complexa de sentimentos contraditórios. Por um lado, sentia um alívio profundo por finalmente saber o que tinha. Por outro lado, um medo imenso do futuro a invadiu. Como seria sua vida dali para frente? Quais limitações enfrentaria? Seus sonhos ainda seriam possíveis?
Horizontes Ampliados: Viagens, Lutas e um Propósito Renovado
Um dos maiores medos de Fernanda depois do diagnóstico era nunca mais poder viajar, principalmente de avião, e conhecer lugares novos que sempre havia sonhado em visitar. Mas a coragem e determinação de Fernanda foram maiores que qualquer medo ou limitação aparente.
Com muito planejamento meticuloso e a ajuda incondicional de amigos e família, ela conseguiu realizar todos os seus sonhos de viagem, adaptando-se criativamente às novas condições impostas pela deficiência. Essas viagens não foram apenas passeios ou momentos de lazer; elas se tornaram uma forma poderosa de Fernanda mostrar os desafios reais que pessoas com deficiência física enfrentam diariamente e de lutar ativamente por melhorias nos espaços públicos e na acessibilidade.
Comunidade do desenvolvimento pessoal - @mulhereswoww
Fernanda com Jordânia Galvão, Luise Arcanjo, Valquíria Galvão e Juliana Galvão
Fé e Esperança
O Salmo 56:3, "No dia em que eu temer, hei de confiar em Ti", tatuado permanentemente em seu braço, é muito mais que uma decoração corporal. É um símbolo tangível de sua fé e força interior, um lembrete constante de que a força espiritual é fundamental para seguir em frente quando tudo parece impossível.
Sonhos de Viagem
Fernanda ainda sonha em viajar extensivamente, conhecer novos lugares ao redor do mundo e pessoas inspiradoras que cruzem seu caminho.
Mensagem para Recém-Diagnosticados
Procure ajuda ativa de amigos e família, participe de grupos com outras pessoas que têm a doença para compartilhar experiências e aprender.
Conhecimento é Poder
Estude profundamente sobre a condição para cuidar adequadamente do seu tratamento.
CAPÍTULO 3
A MÉDICA QUE SE TORNOU PACIENTE
A História de Gabriela Micheleto de Oliveira
Aos 54 anos, a Dra. Gabriela Micheleto de Oliveira carrega consigo uma jornada única que a transformou de médica em paciente, de quem cuida em quem precisa de cuidados, de especialista em oftalmologia em especialista em viver com Esclerose Múltipla. Residente em Santos, no litoral paulista, Gabriela representa a face humana da medicina, mostrando que por trás do jaleco branco existe uma pessoa que também enfrenta vulnerabilidades e desafios.
Sua história, que começou em 1997 com os primeiros sintomas, é um testemunho poderoso sobre como o conhecimento médico pode ser tanto uma bênção quanto um fardo quando se está do outro lado do diagnóstico. É a narrativa de uma mulher que aprendeu a equilibrar a ciência com a fé, a razão com a emoção, e que encontrou no humor e na música formas de enfrentar uma realidade que nem todos os anos de estudo médico poderiam ter preparado.
Os Primeiros Sinais: Quando o Corpo Sussurra Antes de Gritar
O ano de 1997 marcou o início de uma jornada que Gabriela jamais imaginou percorrer. Como oftalmologista, ela estava acostumada a diagnosticar problemas de visão em seus pacientes, mas nunca esperou que seria em seu próprio corpo que encontraria os primeiros sinais de algo muito mais complexo do que qualquer problema ocular comum.
Os sintomas iniciais foram sutis, quase imperceptíveis para quem não possuísse conhecimento médico. Uma perda de sensibilidade aqui, uma falta de destreza nos dedos ali. Para a maioria das pessoas, seriam sinais facilmente ignorados ou atribuídos ao cansaço do trabalho. Mas Gabriela sabia que algo não estava certo.
O Conhecimento Médico: Bênção ou Maldição?
Vantagem
Compreensão técnica dos sintomas e possíveis diagnósticos
Desvantagem
Ansiedade aumentada pelo conhecimento de todas as possibilidades
Dilema
O conhecimento que a capacitava a ajudar outros agora se voltava contra ela
A formação médica, que deveria ser uma vantagem, tornou-se uma fonte de ansiedade. Cada sintoma era analisado, cada possibilidade diagnóstica era considerada. O conhecimento que a capacitava a ajudar outros agora se voltava contra ela, criando cenários e possibilidades que uma pessoa leiga talvez nem considerasse.
O Diagnóstico: Quando o Conhecimento Médico Encontra a Realidade Pessoal
O processo diagnóstico foi uma montanha-russa emocional para Gabriela. Diferentemente de muitos pacientes que chegam ao consultório sem conhecimento prévio sobre suas condições, ela acompanhava cada exame, cada resultado, cada possibilidade com a clareza técnica de quem estudou medicina e a angústia emocional de quem estava vivendo aquela situação.
Quando a confirmação da Esclerose Múltipla chegou, foi como se duas pessoas diferentes recebessem a notícia simultaneamente: a médica, que entendia perfeitamente as implicações técnicas do diagnóstico, e a mulher, que precisava processar emocionalmente o que isso significaria para sua vida pessoal e profissional.
Conhecimento: Bênção e Maldição
Bênção
  • Compreensão exata do que estava acontecendo em seu corpo
  • Conhecimento das opções de tratamento disponíveis
  • Entendimento de como a doença poderia evoluir
  • Capacidade de comunicação eficaz com outros médicos
  • Acesso facilitado a recursos e informações médicas
Maldição
  • Privação da "ignorância abençoada" que muitos pacientes experimentam
  • Consciência de todas as possíveis complicações
  • Dificuldade em separar o papel de médica do papel de paciente
  • Ansiedade aumentada pelo conhecimento técnico
  • Tendência a analisar excessivamente cada sintoma novo
A Transição: De Remitente-Recorrente para Secundária Progressiva
Anos depois do diagnóstico inicial, Gabriela enfrentou uma nova realidade: a transição de sua Esclerose Múltipla da forma remitente-recorrente para a secundária progressiva (EMSP). Esta mudança representou não apenas uma evolução clínica da doença, mas também um novo desafio emocional e prático em sua jornada.
A forma secundária progressiva da Esclerose Múltipla trouxe consigo limitações motoras mais evidentes e permanentes. As remissões, que antes ofereciam períodos de alívio e esperança, tornaram-se menos frequentes e menos completas. Gabriela precisou adaptar não apenas sua rotina pessoal, mas também sua prática profissional.
Como médica, ela sempre soube teoricamente o que significava a progressão da doença. Como paciente, ela descobriu que viver essa progressão era completamente diferente de estudá-la nos livros. Cada nova limitação exigia não apenas adaptação física, mas também um processo de luto pela função perdida e aceitação da nova realidade.
O Girassol e a Música: Símbolos de Esperança e Resistência
Em sua jornada com a Esclerose Múltipla, Gabriela encontrou no girassol um símbolo poderoso de sua filosofia de vida. Assim como essa flor sempre busca a luz do sol, independentemente das condições ao seu redor, ela aprendeu a sempre buscar os aspectos positivos da vida, mesmo nos momentos mais desafiadores.
A música "O que é, o que é?" tornou-se uma trilha sonora especial em sua jornada. A letra, que fala sobre os mistérios e paradoxos da vida, ressoa profundamente com sua experiência de viver com uma condição que é, ao mesmo tempo, conhecida cientificamente e misteriosa em suas manifestações individuais.
"Assim como o girassol sempre busca a luz, aprendi a encontrar o positivo mesmo nos dias mais sombrios."
Uma Profissional Multifacetada
Formação Médica
Formada pela UNIVAS, com especialidade em oftalmologia e pós-graduação em Medicina Funcional Integrativa
Aromaterapia
Aromaterapeuta, buscando abordagens complementares para o bem-estar
Autora
Coautora da 9ª edição do livro "Mulheres Extraordinárias", da Editora Anjo
Educadora
Dedica-se a informar e educar outros sobre a Esclerose Múltipla, traduzindo conhecimento médico complexo em informações acessíveis
Uma das características mais marcantes da jornada de Gabriela é sua missão de informar e educar outros sobre a Esclerose Múltipla. Sua experiência única como médica e paciente a coloca em uma posição privilegiada para traduzir conhecimento médico complexo em informações acessíveis e práticas para outros pacientes e suas famílias.
CAPÍTULO 4
O DIA EM QUE O MUNDO SUMIU
A História de Grégori Lima Ferreira
Na manhã de outubro de 2007, um jovem de dezenove anos acordou sem enxergar absolutamente nada. O nome dele é Grégori Lima Ferreira, nascido em Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul, e criado em São Carlos, interior de São Paulo. Até aquele dia, sua vida era como a de tantos outros rapazes: faculdade à noite, trabalho em logística durante o dia, futebol nos fins de semana e planos de um futuro promissor.
Mas naquele amanhecer, a rotina foi engolida por uma escuridão completa. A visão havia sumido sem aviso. A notícia do médico cairia como uma bomba: ele tinha Esclerose Múltipla. Esta é a história de como um jovem transformou a maior adversidade de sua vida em combustível para se tornar uma pessoa mais forte, mais consciente e mais inspiradora.

A Noite Que Mudou Tudo: Os Primeiros Sinais

A Noite Que Mudou Tudo: Os Primeiros Sinais

Na noite anterior àquele amanhecer fatídico, enquanto assistia à aula em Araraquara, algo estranho já acontecia. As imagens demoravam a chegar ao cérebro, como se o mundo estivesse em câmera lenta. Assustado, comentou com Maíra, a namorada que mais tarde se tornaria sua esposa. Ela percebeu que havia algo errado e o levou para casa.
Nenhum dos dois imaginava que aquela seria a última noite em que Ferreira enxergaria normalmente. O sono veio com dificuldade, acompanhado de uma sensação estranha que ele não conseguia definir. Era como se algo fundamental estivesse se desconectando em seu corpo, mas ainda não havia palavras para descrever o que estava acontecendo.
Gregório e Maíra
A Última Noite de Visão Normal

O jovem de dezenove anos dormiu sem saber que acordaria em um mundo completamente diferente. Não havia sinais dramáticos, não havia dor intensa, apenas uma sensação sutil de que algo não estava certo. Mas essa sutileza seria enganosa, pois na manhã seguinte, sua vida seria dividida em dois períodos distintos: antes e depois daquela noite.
1
Durante a Aula
As imagens demoravam a chegar ao cérebro, como se o mundo estivesse em câmera lenta
2
Percepção da Namorada
Maíra percebeu que havia algo errado e o levou para casa
3
Noite Inquieta
O sono veio com dificuldade, acompanhado de uma sensação estranha indefinível
4
Sensação de Desconexão
Era como se algo fundamental estivesse se desconectando em seu corpo
O Despertar na Escuridão: Quando a Realidade se Transforma
O dia seguinte foi de desespero absoluto. Nem a claridade do sol, nem o rosto da pessoa amada, nem os contornos familiares do quarto. Tudo havia desaparecido em uma escuridão completa e aterrorizante. O primeiro pensamento foi de pânico puro: "O que está acontecendo comigo?". O segundo foi ainda mais assustador: "Será que vou morrer?".
Pensou em tumor cerebral, pensou em morte, pensou em todas as possibilidades mais sombrias que a mente de um jovem de dezenove anos poderia conceber. A família correu com ele para médicos e hospitais, iniciando uma jornada desesperada em busca de respostas que pareciam não existir.
Foram dias de angústia, consultas intermináveis e exames que não traziam respostas imediatas. Cada médico consultado trazia uma nova possibilidade, uma nova teoria, mas nenhuma certeza. A incerteza era quase tão aterrorizante quanto a própria perda da visão.
O Diagnóstico: Finalmente um Nome para o Medo
Até que um neurologista, olhando nos olhos do jovem com a experiência de quem já havia visto casos similares, foi direto ao ponto: "Você tem Esclerose Múltipla." As palavras ecoaram no consultório como um veredicto, mas também como um alívio inesperado. Finalmente havia um nome para o que estava acontecendo.
A reação foi complexa e contraditória. "Perdi meu chão. Fiquei assustado, nervoso, inseguro", relembra Grégori. Ao mesmo tempo, sentiu um alívio que não esperava. Finalmente sabia contra o que estava lutando. Havia um inimigo identificado, e isso, de alguma forma, tornava a batalha mais tangível e menos aterrorizante.
O médico deu um conselho que se revelaria fundamental: não pesquisar sobre a doença na internet. Grégori seguiu essa orientação religiosamente, escolha que considera ter sido fundamental para atravessar o início sem se afundar em medos ainda maiores.
Reconstrução em Meio ao Caos: A Jornada de Volta à Luz
Surtos e Desafios
Vieram surtos que deixavam suas pernas dormentes, noites de insônia repletas de dúvidas sobre o futuro, e questionamentos constantes sobre o que seria possível realizar dali em diante.
Determinação
Nasceu uma teimosia que se transformou em arma de resistência. "Eu pensava que, se fosse preciso, jogaria futebol mesmo com as pernas dormentes", conta com a determinação que se tornaria sua marca registrada.
Recuperação Gradual
A visão voltou pouco a pouco, como um amanhecer gradual após uma longa noite. Cada clarão de luz era celebrado como um milagre, cada forma que se tornava visível era uma vitória contra a escuridão.
Momento Emocionante
O primeiro rosto que conseguiu enxergar novamente foi o de Maíra, um momento que ele descreve como um dos mais emocionantes de sua vida.
Pilares de Força
"Minha fé cresceu muito, me deu forças que eu não sabia que tinha."
Família
Os pais o acompanharam em consultas intermináveis, correram atrás de especialistas, mostraram confiança quando ele mais precisava de certezas.
Determinação
A teimosia em não desistir se transformou em sua maior arma contra a doença.
Hoje, aos 36 anos, Grégori é pai de Pietra, de sete anos, e Paolo, de quatro. A rotina é cuidadosamente estruturada para acomodar tanto as necessidades do tratamento quanto as demandas da vida familiar e profissional. Nos últimos anos, decidiu que sua história não ficaria guardada apenas para si e sua família. Criou o perfil @gregesclerosado no Instagram, onde compartilha sua rotina e responde mensagens de pessoas recém-diagnosticadas.
A Música como Símbolo
Até na música encontrou um símbolo para sua jornada. Escolheu "Atomic Bomb", do Dubdogz, como trilha pessoal. O título remete à explosão que foi o diagnóstico, mas o ritmo animado representa a energia com que decidiu viver dali em diante. "É como transformar a bomba em combustível."
Esta escolha musical representa perfeitamente a filosofia de vida que Grégori desenvolveu ao longo de sua jornada com a Esclerose Múltipla. Em vez de permitir que o diagnóstico o destruísse, ele encontrou uma forma de transformar essa energia potencialmente devastadora em força motriz para uma vida plena e significativa.
A metáfora da bomba atômica é poderosa: assim como a energia nuclear pode ser usada tanto para destruição quanto para geração de energia positiva, Grégori escolheu canalizar a força do impacto de seu diagnóstico para impulsionar uma vida de propósito, conscientização e ajuda a outros que enfrentam desafios similares.
CAPÍTULO 5
A FORÇA INABALÁVEL DE UMA GOIANA
A História de Karina Rocha Freitas Brito
Em meio ao calor vibrante de Goiânia, Goiás, reside uma mulher cuja jornada é um testemunho de resiliência e fé inabalável. Karina Rocha Freitas Brito, aos 46 anos, nascida em 24 de junho de 1979, personifica a alma goiana, com suas raízes fincadas na terra do cerrado e um espírito que se recusa a ser dobrado pelas adversidades.
Sua história, marcada por desafios monumentais de saúde, é um farol de esperança e inspiração, revelando a extraordinária capacidade humana de transformar dor em propósito e luta em vitória. Esta é a historia de uma mulher que, diante das provações mais duras, escolheu viver intensamente, provando que a verdadeira força reside na forma como nos levantamos após cada queda.
Uma Infância Feliz e o Despertar para a Vida Acadêmica
A infância de Karina foi um retrato de liberdade e alegria, vivida nas ruas de Goiânia, entre brincadeiras com primos e amigos, viagens e a descoberta do mundo de forma autêntica e descompromissada. Ela se descreve como uma "criança raiz", subindo em árvores, caindo, machucando, aprontando e sendo feliz.
Desde cedo, demonstrou um apetite insaciável por conhecimento e trabalho. Na adolescência, suas experiências variaram de atendente de lanchonete a caixa de shopping e até mesmo professora, revelando uma versatilidade e dedicação notáveis. O ingresso na faculdade de Zootecnia na PUC-GO marcou o início de uma paixão que a impulsionaria para uma carreira acadêmica brilhante.
Trajetória Acadêmica e Profissional
1
Início da Faculdade
Ingresso na faculdade de Zootecnia na PUC-GO, marcando o início de uma paixão acadêmica
2
Iniciação Científica
Engajamento em projetos de pesquisa, estágios em laboratórios e experiência como professora
3
Mestrado
Aos 24 anos, defesa da dissertação de mestrado, demonstrando dedicação e excelência acadêmica
4
Concurso Público
Em 2006, aprovação em primeiro lugar em Concurso Público Federal para a vaga de Zootecnista e Professora no então CEFET, hoje IFGoiano
Engajada em projetos de iniciação científica, estágios em laboratórios e ministrando aulas, Karina construiu uma base sólida para seus sonhos de ser pesquisadora e professora. Sua trajetória acadêmica foi marcada por dedicação e excelência, culminando em uma carreira profissional de sucesso.
Karina e Alexandre Leite Brito seu marido
A Batalha Contra o Câncer e o Início de uma Nova Luta
Em julho de 2012, em meio à licença-maternidade após o nascimento de Pedro e à preocupação com a saúde de seu pai, Karina decidiu fazer um check-up. O que parecia uma medida preventiva se transformou no início de uma série de provações. Um nódulo na tireoide, um resultado inconclusivo e a urgência de um diagnóstico a levaram a uma tireoidectomia total.
A confirmação de um câncer de tireoide e a subsequente radioterapia mergulharam Karina em um isolamento doloroso, onde o medo da morte se fez presente. Aos 32 anos, no auge de sua vida profissional e familiar, a pergunta ecoava: "Poxa vida, só tenho 32 anos, no meu auge profissional, 3 anos de casada, 2 filhos para criar, porque comigo?".
Karina e Rosemar Rahal
Fé e Determinação
No entanto, a fé e o desejo de cuidar de suas "crias", vê-los crescer, formar e se realizar, a impulsionaram a fazer um pedido especial e sério a Deus: a cura e a oportunidade de viver bem. Ela se recuperou, mas mal sabia que o destino lhe reservava mais um desafio.
Três meses após a cirurgia da tireoide, em novembro de 2012, dores de cabeça insuportáveis e um episódio marcante de fraqueza no lado esquerdo do corpo acenderam um novo alerta. Sintomas como dormências, quedas, dores de cabeça, falta de equilíbrio, esquecimentos e dificuldade de pronunciar palavras finalmente ganhavam um nome: Esclerose Múltipla.

A notícia, inicialmente, foi recebida com ignorância e negação. "Vou ficar esclerosada igual alguns idosos que conheço?", perguntou. O médico explicou que a Esclerose Múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central, prejudicando as conexões neurais, mas que "você não vai morrer disso, porque tem tratamento e está evoluindo muito!!!".
Aceitação e Tratamento
Alívio Inicial
Um alívio tomou conta de Karina ao saber que não era câncer na cabeça
Busca por Confirmação
Foram necessárias cinco opiniões médicas diferentes para que Karina aceitasse a realidade
Início do Tratamento
Em fevereiro de 2013, Karina finalmente iniciou o tratamento para Esclerose Múltipla
No ano de 2017, uma nova provação: o câncer voltou, exigindo novas cirurgias e radioterapia. Mais uma vez, Karina precisou pausar sua vida, enfrentar o isolamento e lutar pela sobrevivência. Mas foi nesse período de recuperação que ela descobriu na corrida não apenas um exercício, mas uma terapia para corpo e alma.
A Transformação Através do Esporte: Corrida como Metáfora da Vida
A corrida entrou na vida de Karina como uma necessidade médica, mas rapidamente se transformou em paixão e filosofia de vida. Começou devagar, com caminhadas que evoluíram para trotes e, posteriormente, para corridas de longa distância. Cada passada era uma vitória contra a doença, cada quilômetro percorrido era uma afirmação de que ela estava viva e forte.
A atividade física se tornou seu remédio mais eficaz. Não apenas para os sintomas da Esclerose Múltipla, mas para a ansiedade, a depressão e os medos que acompanham um diagnóstico tão complexo. Karina descobriu que, ao correr, ela não estava fugindo de seus problemas, mas correndo em direção à sua melhor versão.
Conquistas no Esporte e na Vida
5K
Primeiras Corridas
Início da jornada como corredora, superando limitações físicas
21K
Meias Maratonas
Evolução para distâncias maiores, demonstrando resistência e determinação
100%
Comprometimento
Dedicação total à atividade física como parte do tratamento
Participou de diversas corridas, desde 5K até meias maratonas, sempre carregando consigo a mensagem de que "a EM não é uma sentença de morte, é o início de uma nova fase". Suas conquistas no esporte se tornaram símbolos de superação, inspirando outras pessoas com a mesma condição a não desistirem de seus sonhos.
Durante toda sua jornada, Karina encontrou na família e na fé os pilares fundamentais para sua sustentação. Seus filhos, Manuela e Pedro, foram sua maior motivação para continuar lutando. O desejo de vê-los crescer, formar-se e realizar seus sonhos a impulsionava nos momentos mais difíceis.
CAPÍTULO 6
OS PRIMEIROS PASSOS DE UMA NOVA REALIDADE
A História de Verônica Moschiar Pontes
Verônica Moschiar Pontes, 37 anos, de São Paulo, capital, enfrenta um novo capítulo em sua vida, um que a desafia a cada amanhecer, mas que também a impulsiona a uma profunda transformação. Recém diagnosticada com Esclerose Múltipla, Verônica, nascida em Barretos, interior de São Paulo, compartilha uma jornada íntima de superação e fé, revelando como a adversidade se tornou um catalisador para um novo olhar sobre a vida e o autocuidado.
Sua história é um convite à reflexão sobre a força do espírito humano diante do inesperado, e a delicadeza de um caminho que está apenas começando, cheio de incertezas e a sensação de um corpo que ainda está se adaptando a uma nova realidade.
A Vida Antes do Diagnóstico: A Busca Incansável por um Futuro Melhor
Antes da Esclerose Múltipla, Verônica, produtora de eventos, vivia em ritmo frenético. Horários imprevisíveis, alimentação desregrada e pouco descanso eram a norma. A instabilidade financeira a levava a jornadas exaustivas, muitas vezes de 20 horas, conciliando trabalho, casa e filho. Sonhava com estabilidade e lazer, mas o tempo para si era inexistente.
Ignorava sinais do corpo como dores, fadiga e visão turva, atribuindo tudo ao cansaço. Doava-se por completo, negligenciando-se em busca de segurança familiar. Era uma vida de constante movimento, onde parar significava perder oportunidades, onde o autocuidado era um luxo que não podia se permitir.
Ritmo Frenético
Horários imprevisíveis, alimentação desregrada e pouco descanso
Jornadas Exaustivas
Muitas vezes trabalhava 20 horas, conciliando trabalho, casa e filho
Sinais Ignorados
Dores, fadiga e visão turva atribuídos ao cansaço normal

Ao receber o diagnóstico, Verônica foi inundada por medo e perguntas angustiantes. Contudo, sua fé inabalável e o apoio familiar foram seu porto seguro. A frase de um médico, "Para os homens, a esclerose múltipla pode não ter cura, mas para Deus nada é impossível", e o versículo Isaías 41:10, a confortaram profundamente.

"Não tema, pois estou com você; não se assuste, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa." - Isaías 41:10 Ela sentiu que a doença era um chamado divino para cuidar de si, transformando a culpa inicial em aceitação. Sua mãe, com sabedoria, a consolou com a metáfora da borboleta: ela não havia morrido, mas estava se transformando. Essa imagem mudou sua forma de ver as coisas, e hoje Verônica se sente renascendo, mais forte e consciente. Veronica e seus pais Célio Vieira Pontes Filho e Lúcia Moschiar Pontes Fé Inabalável Conforto nas palavras divinas e confiança no propósito maior Apoio Familiar Porto seguro nos momentos de incerteza e medo Metáfora da Borboleta Transformação ao invés de fim, renascimento para uma nova vida Autocuidado Reconhecimento da necessidade de cuidar de si mesma

O Amanhecer da Nova Verônica

Verônica está em um processo profundo de aprendizado e aceitação de seu corpo. Antes, a autocrítica prevalecia, mas a experiência de não sentir parte de si a fez compreender o quão precioso é cada pedaço de seu ser. Hoje, um simples gesto como passar creme nas pernas se transforma em um ritual sagrado de gratidão e autocuidado. Despertar Agradecimento sincero a Deus ao abrir os olhos Organização Arrumação da casa com calma e presença Nutrição Preparo do café da manhã com atenção plena Devocional Momento de conexão espiritual e reflexão Suas manhãs, antes caóticas, agora são um santuário de conexão e gratidão. A primeira ação ao despertar é um agradecimento sincero a Deus. Em seguida, com calma, organiza a casa, prepara seu café e dedica-se ao seu devocional. Essa prática a inspirou a criar o "Devocional com Verô" no Instagram, um espaço onde compartilha diariamente uma palavra de fé. O ritual matinal de Verônica transformou-se de caos em santuário, inspirando-a a compartilhar sua jornada espiritual através do "Devocional com Verô" no Instagram.

Conquistas Inesperadas

O momento favorito do dia de Verônica é a hora do almoço, um ritual sagrado onde ela prepara a comida para sua família. Com uma melodia que a conecta consigo mesma, ela sente a alegria preencher o ambiente, infundindo amor em cada tempero. Voltar a Dirigir Apesar do medo e da perna que ainda treme quando a ansiedade se manifesta, Verônica retornou ao volante, conquistando um importante símbolo de liberdade. Abandonar a Bengala A querida "Penélope Charmosa", sua bengala, foi deixada de lado, marcando um avanço significativo em sua autonomia e recuperação física. Andar de Kart Recentemente, realizou algo que jamais imaginou: foi andar de kart com seu filho, um momento de pura alegria e superação que simboliza sua nova perspectiva de vida. "Para ela, a esclerose múltipla é um diagnóstico, não uma sentença. Ela tem EM, mas a EM não a tem." Verônica sabe que haverá momentos em que a doença a paralisará, mas sua fé e resiliência a impulsionam a encontrar sempre um jeito de se adaptar e seguir em frente.

A Borboleta que Emergiu do Casulo

Hoje, Verônica olha para o futuro com uma perspectiva completamente renovada. A jornada que começou com um diagnóstico assustador transformou-se em um caminho de autodescoberta e valorização da vida em seus mínimos detalhes. Cada desafio superado - seja voltar a dirigir, abandonar a bengala ou simplesmente sentir gratidão pelo próprio corpo - representa um passo em sua metamorfose pessoal. "A borboleta que saiu do casulo é muito mais bonita do que a lagarta jamais imaginou ser." Desafio Diagnóstico de Esclerose Múltipla Aceitação Transformação da culpa em compreensão Crescimento Desenvolvimento de nova perspectiva Renovação Renascimento como uma pessoa mais forte A história de Verônica Moschiar Pontes não é apenas sobre viver com Esclerose Múltipla, mas sobre como encontrar beleza, propósito e força em meio às adversidades. É um testemunho de que, às vezes, precisamos parar completamente parar completamente para realmente começar a viver.

O Despertar para uma Nova Realidade: O Diagnóstico e a Força da Fé
1
13 de Março de 2025
Formigamento nos pés que evoluiu para dormência, fraqueza e a necessidade de uma cadeira de rodas
2
Sintomas Alarmantes
Dor súbita no cóccix e a perda de controle da bexiga e do intestino a levaram ao Hospital Tatuapé
3
Exames Reveladores
Ressonâncias revelaram problemas no cérebro e na medula, fazendo com que suas pernas parassem de funcionar
4
14 de Abril de 2025
Diagnóstico oficial de Esclerose Múltipla, marcando a virada na vida de Verônica
O susto foi enorme, ainda mais porque os médicos não falavam sobre a doença ser hereditária e até pensaram que poderia ser câncer. No meio de todo o desespero, sua fé, que é muito forte, a ajudou a seguir em frente.
Em vez de reclamar, ela pediu a Deus para aprender com aquilo, sentindo que a doença era um sinal para ela parar e cuidar de si mesma. Ficar sem se mover a fez olhar para dentro, mudando o que era mais importante na vida dela.
REFLEXÕES SOBRE A FORÇA HUMANA
Ao chegar ao final desta jornada através das vidas de Daniel, Fernanda, Gabriela, Grégori, Karina e Verônica, somos confrontados com uma verdade fundamental sobre a natureza humana: nossa capacidade de transformação e superação é verdadeiramente ilimitada quando alimentada pela fé, pelo amor e pela determinação.
Cada história aqui narrada é única em seus detalhes, mas universal em sua essência. Todas falam de pessoas comuns que se tornaram extraordinárias não apesar de suas circunstâncias, mas por causa da forma como escolheram responder a elas. A Esclerose Múltipla, que poderia ter sido o fim de seus sonhos, tornou-se o catalisador para uma vida mais consciente, mais significativa e mais inspiradora.
A verdadeira força não está na ausência de desafios, mas na forma como escolhemos enfrentá-los.